O Corpo da Minha Namorada
O corpo da minha namorada não é meu.
Alguém poderia dizer, erroneamente, que ela dá o corpo dela para mim quando estamos juntos. Ou que empresta. Mas não é verdade.
O corpo é dela, sempre.
E a gente divide quando se encontra, porque ela aproveita o corpo dela e eu também.
Mas é dela, e eu nunca esqueço disso.
O corpo da minha namorada é lindo.
E ela sabe bem que embora tenha um monte de qualidades intangíveis que eu também gosto, o corpo dela atrai. Ela tem as curvas que eu gosto, nos lugares que eu gosto. É branco como tantas folhas que usei para escrever minhas histórias e carrega marcas que contam seus próprios contos, e dos quais ainda não sei nem um terço.
O corpo da minha namorada deu a ela alguns presentes de grego, com os quais ela convive diariamente e sobre os quais muita gente nem sabe nada, porque ela sabe que o corpo é dela, e está sob os cuidados dela, sob as responsabilidades dela e que dividir a dor ou o incômodo é também espalhar e dividir estes mesmos incômodos, e que, por isso, às vezes é melhor serenar e deixar que o tempo passe e voltar sorrindo como se nada tivesse acontecido.
O corpo da minha namorada é motivo de orgulho para ela, porque acho que ela consegue se olhar no espelho e se enxergar bonita, coisa tão rara. pra gente que é tão idiota.
Ela vê na superfície refletida um conjunto do que ela tem de melhor, não só em forma de carne, pele, pelos, mas em forma de ideia, de alegria, de paixão.
O corpo da minha namorada é o retrato do que ela é.
É quem carrega todos os anseios etéreos que ela cultiva na cabeça e no coração, quem suporta as pancadas que ela toma e quem explode de alegria quando a felicidade bate.
O corpo da minha namorada não é meu.
Não é seu.
Não é dos pais dela.
Não é da família dela.
O corpo da minha namorada é dela.
E de mais ninguém.
